Refugiados em São Paulo: relato de uma visita

Refugiados em São Paulo: relato de uma visita

Uma tarde chuvosa e fria de junho, eu e mais duas pessoas fomos conhecer a Missão Paz, no bairro do Glicério em São Paulo (SP). A Missão Paz é uma comunidade internacional de padres scalabrinianos. Tem por missão acompanhar imigrantes das mais diversas culturas, crenças e etnias. Possivelmente a comunidade mais antiga no Brasil, oferecendo apoio a imigrantes.

Ao chegar, nos deparamos com uma grande fila de homens e algumas mulheres, jovens, negros, na sua grande maioria, que aguardavam entrevista para tentativa de colocação no mercado de trabalho.

Conhecemos o local onde é realizada a “mediação”, uma conversa entre o imigrante e representantes de empresas que tenham disponibilidade de vagas para serem ocupadas por estrangeiros.

Há também um grande auditório, que é utilizado por comunidades de diferentes países que realizam festas comemorativas e apresentações típicas. Naquela tarde, o auditório estava sendo preparado para uma festa de uma comunidade boliviana.

Conhecemos também a Casa do Migrante, que acolhe pessoas até que a situação de documentação e outras providências delas seja encaminhadas. Encontramos duas crianças lindas e saudáveis, filhos de imigrantes que haviam chegado à casa fazia pouco tempo.

Ficamos sabendo ainda de mais três casas de acolhimento. Duas delas atendem mães grávidas, viúvas e adolescentes na faixa etária de 14 a 16 anos que chegam ao Brasil escondidas em navios.

Fomos informados sobre os dados atuais no mundo: 65 milhões de pessoas vivem em situação de deslocamento forçado dos seus países de origem. No Brasil, segundo o CONARE (Comitê Nacional de Refugiados do Ministério da Justiça), nos últimos quatro anos, o número de refugiados no Brasil praticamente dobrou, passando de 4.218, em 2011, para 8.400 em 2016, vindos  de 79 diferentes nacionalidades, sendo as cinco maiores comunidades originárias, em ordem decrescente: Síria, Angola, Colômbia, Congo e Palestina.

Acrescenta-se a este número mais de 25 mil pessoas que já vivem no Brasil, mas que ainda aguardam processos de documentação a serem expedidos pelo Ministério da Justiça.

Espanto, tristeza e desafio
O sentimento naquela tarde foi um misto de espanto, tristeza e desafio. O espanto, por nos depararmos com tantas pessoas que foram obrigadas a se deslocarem de seu país de origem em busca de um futuro melhor. A tristeza, por imaginar a história individual de separação de suas famílias.

A saudade, pelo peso da escolha de sair do seu próprio país. O desafio, por conhecermos tão pouco sobre esta dura realidade que afeta o nosso país e milhões de pessoas no mundo todo e saber que precisamos nos juntar aos que já estão trabalhando e servindo nesta área.

A visita chegou ao final e perguntamos ao padre que nos recebeu tão bem: de que forma poderíamos ajudar? Há algo que podemos fazer?

A resposta dele foi:

Vocês precisam fazer campanhas de sensibilização nas igrejas evangélicas, para que elas se despertem a acolher o imigrante, o refugiado

Ele nos disse ainda que a maioria das pessoas que hoje residem na casa do Migrante vêm de alguma igreja evangélica do seu país de origem.

Saímos daquela visita impactados com o que vimos e ouvimos e dispostos a agir em favor destas pessoas. Estamos orando para que o Senhor nos dê discernimento, nos mostre os caminhos por onde devemos seguir e que, num curto espaço de tempo, possamos trabalhar para que famílias sejam completamente restauradas e nos ajudem a restaurar milhares de outras famílias, através do amor do nosso Senhor Deus.

“Ele defende os direitos dos órfãos e das viúvas. Ele  ama o estrangeiro e lhes dá comida e roupa. Amem os estrangeiros.” Deuteronômio  10:18,19 NTLH

Débora Fahur é assistente social e uma das diretoras da AEBVB (Associação Evangélica Beneficente Vale da Benção), em Araçariguama, SP. Débora também é uma das fundadoras da RENAS e uma das coordenadoras da campanha Bola na Rede.

Ilustração: capa da cartilha Nacionalidade e Apatridia: Manual para Parlamentares, da ACNUR, Agência da ONU para Refugiados.

2 Comentários

  1. Cinthia Brum

    Em nossa cidade – Santa Bárbara dOeste – ha muitos haitianos. Temos um projeto de ensino de português aos sábados. É preciso mesmo acolher e andar junto!

    Responder
  2. Mara

    Débora,
    Paz de Deus!
    Sou pastora da Igreja Presbiteriana Independente da Lapa. Nos últimos meses tenho orado e sentido o meu coração queimar pelos refugiados no Brasil.
    A nossa igreja tem uma estrutura fisica enorme e Estou escrevendo um projeto para abrigar crianças e adolescentes refugiados aqui.
    Gostaria muito de conhecê-la.
    Meu celular 95072-1524
    Abs
    Mara

    Responder

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