Nos dias 19, 20 e 21 de setembro, a Rede Evangélica Nacional de Ação Social esteve reunida para a realização do 12º Encontro Nacional RENAS, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro. Foram 3 dias dedicados a exposição bíblica, conhecimento de dados da realidade e compartilhamento de boas práticas, norteados pelo tema Pai Nosso, Seja feita a Tua Vontade.
Na abertura do evento, o pastor Carlos Queiróz foi responsável pela devocional sobre a oração do Pai Nosso.
“Tente pensar o Venha teu Reino, como um novo modelo social e não como o modelo social que nós conhecemos a partir da monarquia; E, o Seja feita a Tua vontade, nessa perspectiva de sensibilidade, da sensibilidade de Deus. Pergunte-se: qual a sensibilidade do meu coração?”
Todo programa foi divido em cinco grandes áreas inspiradas nos 5Ps da Agenda 2030: Prosperidade, Planeta, Paz, Pessoas e Parcerias.
Na plenária sobre Prosperidade com o tema: Como ir contra a corrupção que impede o Shalom?, o pastor Antônio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz, discorreu sobre o papel da igreja diante do cenário atual e suas ações, nem sempre tão marcantes contra a corrupção que tem fragilizado cada vez mais os menos favorecidos. Ele enfatizou a necessidade da igreja ser mais assertivas em suas ações contra a corrupção: “Temos sido bons e proféticos nas denúncias que temos feito. Contudo, carecemos de sinalizações históricas. Vamos abraçar uma causa, afim de sinalizarmos no tempo, no espaço, na história, a nossa presença pra glória de Cristo.” – disse.
Nos dados da realidade sobre a corrupção, Jetro Coutinho, Auditor do Tribunal de Contas da União, apresentou de forma objetiva as ações de sua atuação, mas enfatizou a necessidade de cristãos envolvidos em espaços públicos atuando para a glória de Deus.
“Nós ainda não temos pesquisadores cristãos de excelência em corrupção e gestão pública. Estamos começando a ter agora. Precisamos de gente. Gente engajada em manifestar a vontade de Deus também na pesquisa acadêmica. Gente interessada em dar respostas para a corrupção no sentido sociológico, econômico, jurídico, psicológico… o que for… Precisamos de mais pessoas engajadas para manisfestar a vontade de Deus. Ciência e Deus não são conflitantes, pelo contrário, sem Deus não há ciência.”
Na abordagem do segundo P, sendo o Planeta, o pastor Werner Fuchs alertou sobre aquela que ele chama de A Última Crise do Planeta. Iniciou sua fala com uma imagem de satélite da Terra, com suas belas nuvens e água em abundância. Imagem que a cada dia está se transformando em nebulosa e alarmante devido o descaso e a poluição.
“A crise no planeta é a sexta crise. Houve 5 crises até agora, onde desapareceu de 90% a 95% de vida no planeta. Mas estas foram catástrofes naturais. E, agora, vai acontecer ou já está em curso a perda de vida no planeta, mas por ação humana. O planeta vai continuar, mas é capaz de continuar sem nós.”
Para retratar o que foi abordado na plenária, James Pinheiro, representante da REVTS – Rede Evangélica do Terceiro Setor, apresentou o case com mineradoras de Brumadinho e a ação direta das organizações cristãs no cuidado com as pessoas atingidas e trabalhadores no local.
Além disso, mais um bálsamo de esperança para o Planeta foi apresentado pela Campanha Renovar Nosso Mundo, desenvolvida no Brasil pela Tearfund. Um chamado para cristãos de todo mundo se unirem em ações de oração e práticas em prol da criação de Deus.
A Paz foi abordada no segundo dia pelas palestrantes Regina Célia, co-fundadora do Instituto Maria da Penha e Adriane Maia, fundadora da ONG Casa Semente. Ambas, discorreram sobre a violência, sendo a violência contra a mulher e a violência contra jovens negros, respectivamente.
Regina, além de apresentar dados e histórias alarmantes sobre a violência contra a mulher, ampliou a discussão para o olhar dos órfãos de mulheres vítimas de violência, que estão sofrendo o que ela chama de Ressentimento Cívico: “quando eu vi a minha mãe passar e sofrer, o Estado não fez nada. Portanto, eu não tenho que respeitar esse estado.” – explicou a palestrante.
Regina Célia ainda declarou que no Brasil “não temos um trabalho efetivo com esses órfãos. Esses órfãos não conhecem o Pai, não sabem o valor da paternidade, não conhecem a Vontade do Pai, não sabem o designo de Deus para as vossas vidas, e não sabem se há convergência entre a Vontade do Pai e a vontade dele.”
Interessante notar como o ciclo de violência é existente. Adriane Maia alertou para a falsa paz que vivemos no Brasil, embasando sua palavra nos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2019 que classificou o Brasil como “campeão” de assassinatos no mundo.
“Uns chamam o Brasil de país pacífico, mas estamos longe disso. E gostaria de lembrar a todos, que nós do Rio de Janeiro vivemos dias muito críticos, principalmente para a juventude negra. Gostaria que vocês conhecessem um pouquinho da realidade que bate as portas de muitas famílias.” – denunciou.
Adriane focou também nos riscos atuais que os direitos de crianças e adolescentes vem sofrendo, como o desmonte do CONANDA – Conselho Nacional de Direitos das Crianças e dos Adolescentes e a falta de políticas sociais distributivas.
A penúltima plenária do Encontro, abordou o princípio das Pessoas, que para a Agenda 2030, compromete-se: “Estamos determinados a acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e dimensões, e garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade, em um ambiente saudável.”
A partir dessa leitura, o pastor Christian Gills indagou os presentes sobre a postura de Cristo, quando durante sua palavra disse:
“Jesus fez ou ensinou isso? O Reino de Deus sinaliza isso de alguma maneira? A vontade de Deus, que Jesus revelou, de alguma maneira revela, reflete, ensina e estabelece o compromisso com o fim da pobreza e da fome e com o desenvolvimento da dignidade e da igualdade para todas as pessoas. E, eu quero dizer um sonoro sim.
A oração de Jesus já está sendo respondida. Pois o Reino de Deus já iniciou. A vontade de Deus é realizada pelos agentes de Deus aqui na Terra.
Em contraste as ações realizadas, encontra-se muito o que fazer ainda. E os dados da realidade social brasileira, apresentados pelo pastor Clemir Fernandes, mostram que “eles ofendem profundamente ao Deus que nós afirmamos servir e seguir”, provocou Clemir, que ainda reiterou “a necessidade de ter em uma mão a Bíblia e na outra os dados da realidade para tentarmos fazer mais e melhor a vontade de Deus”, citando Karl Barth.
Nas boas práticas voltadas para Pessoas, Projeto Calçada Lifewords e AEBVB – Associação Evangélica Beneficente Vale da Bênção alegraram os presentes com histórias de transformação de crianças em vulnerabilidade e o acolhimento de refugiados venezuelanos, apresentados respectivamente por Luciana Falcão e Débora Fahur.
O quinto é último P foi o de Parcerias, explanado por Valdir Steurnagel e Maurício Zagary.
Maurício, ao discorrer sobre os dados e as boas práticas, e optou em reforçar a oração do Pai Nosso, com outra oração de Jesus, a de João 17: “para que todos sejam um assim como tu e eu o somos.” Ressaltou o perigo da polarização: “Polarização por tanto, que gera divisão entre o corpo é pecado, porque pecado é a subversão da vontade de Deus.”
Em paralelo, também citou o apóstolo Paulo e suas orientações para que o corpo viva em união. E terminou com uma reflexão individual:
“Você? Como tem sido as suas atitudes? Qual o seu irmão em Cristo que pensa diferente de você? Você tem sido agente da reconciliação que Jesus almeja ou você tem sido fomentador da polarização que é pecado contra a vontade do Senhor.”
Valdir Steurnagel, citando Isaías, Apocalipse e até mesmo Tomé, enfatizou a presença do Céu, da eternidade já em processo. O Reino de Deus em encontro do outro, assim como Jesus foi e vai ao encontro das pessoas.
“Assim quando nós oramos, Venha o teu Reino, Seja a feita a tua vontade, assim na terra como no céu, nós oramos para que os cegos vejam, os coxos andem, os leprosos sejam purificados, as crianças sejam abraçadas e alimentadas, as pessoas não sejam discriminadas… Nós oramos para que a realidade dos novos céus e da nova terra se torne uma realidade entre nós, ainda que seja uma realidade parcial, uma realidade ‘expectativa’, em processo. Mas, uma realidade.”
Mais do que um tema, a oração de Jesus foi explicada, meditada, liberada e reforçada nas palavras, ações e em cada pessoa presente no 12º Encontro Nacional RENAS. Cientes do papel prático que ela possui de ir ao encontro de todos que necessitam do Reino de Deus já presente na Terra, a Rede Evangélica Nacional de Ação Social propôs convergir a Bíblia com os 5 Ps da Agenda 2030 e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e assim o fez.
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