Espaços coletivos, ética da participação e conjuntura social
A primeira plenária do VI Encontro de Renas trouxe informações sobre a conjuntura social brasileira. A Secretária Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Denise Colin, e a assessora da Marina Silva, coordenando a área de “Fé e Cidadania”, Jane Maria Vilas Bôas, discorreram sobre a conjuntura na perspectiva do governo e na perspectiva das organizações cristãs, respectivamente.
Denise começou falando sobre as desigualdades no crescimento econômico, desenvolvimento político e formação de políticas públicas que marcaram a breve história do Brasil. “Terra garrida, mas também passiva”, diz ela, destacando que se de um lado Governo tem sido assistencialista, por outro, o povo contenta-se em ter sua necessidade atendida, sem lutar por direitos estabelecidos.
Denise trouxe números que demonstram as desigualdades e maior vulnerabilidade de alguns grupos como negros, indígenas, crianças e pessoas com deficiência, assim como mulheres e comunidades rurais em outra perspectiva.
Por exemplo, no campo, de cada quatro pessoas, uma delas vive com até R$70/mês. Quase 70% são negros ou pardos; 50% tem até 19 anos, sendo que quase 40% tem até 14 anos. Em sua maioria não têm tratamento de esgoto ou água potável, 25% são analfabetos.
E qual tem sido a política pública para o público rural? E qual tem sido a participação política desse grupo em espaços onde ele teria voz? Segundo a integrante do MDS, o trabalho em rede é uma estratégia correta para enfrentar a miséria. Redes são espaços que promovem a incentivam a participação política, embora “fique o desafio de garantir o controle social e este também é o papel da sociedade civil e nesse sentido queremos firmar parceria com a Renas e outras redes existentes”, conclui Denise.
“Ainda há gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição e crianças que com fome choram”, palavras de Nelson Mandela, que segundo Denise, devem motivar nossas ações.
A segunda preletora começou com uma pergunta interessante: quem já leu ao menos parte da nossa Constituição? E para sua surpresa, a maioria do público presente no Encontro de RENAS respondeu positivamente.
A assessora da Marina Silva, Jane Maria Vilas Bôas, confrontou o público falando que somos sujeitos de direitos, mas a população, em geral, é alienada sobre sua relação política. Mais ainda os cristãos, que se alienam de sua cidadania espiritual.
Jane citou Romanos 12.2 para nos lembrar de termos nossas mentes renovadas a fim de experimentar e comprovar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Segundo ela, precisamos da nossa fé para identificar a “conjuntura que temos hoje: uma crise de valores, que interferem em todos os ecossistemas e na relação das pessoas entre si”.
No mundo, a conjuntura é de uma crise, “construída politicamente”, do sistema financeiro. No meio ambiente, uma crise ambiental provocadas pela emissão de gás carbônico, que apresenta o desafio técnico e técnológico de trazer mudanças para a nossa forma de captar energia, para nossa forma de viver, fala Jane.
A antropóloga diz que o Brasil apresenta uma biodiversidade das maiores e uma sociobiodiversidade incrível, mas está caminhando contra os ideais coletivos e começou a ser gerida pelo desejo individual. E “a ideologia da individualização leva nossos valores do espaço coletivo para o individual”.
Na política, ela vê as brigas de interesses e política e economia servindo uma a outra. Segundo ela, o governo Lula teve muita prudência, mas agora na nova governabilidade há uma certa sucumbência ao poder para continuar. “Não se vê a política como um serviço”.
Chegando no tema da participação política, Jane defendeu uma esgotamento do sistema político partidário no mundo todo,em que ao invés de fiscalizarmos e exigirmos, há um pacto de irresponsabilidade e os eleitores não lembram nem em quem votaram.
Jane, termina destacando alguns desafios na política: resgatar a ética da participação e sair desse pacto de cumplicidade entre eleitor e eleito; preservar a natureza, que geme em dores de parto; resgatar a ética com a coisa pública; e agir com transversalidade, de forma que os ministérios passem a propor soluções em conjunto, pois nós sabemos que quando se trabalha junto, dá resultado.
Denise Colin, retoma a palavra, ressaltando que a representação política foi substituída por uma briga de interesses e que essas pessoas não querem ser controladas e não vão facilitar o nosso acesso. No momento de eleição, temos que ir com a proposta de participação que foi colocada aqui, assim como exercitar para que o povo fale por si mesmo e não que a gente fale por eles, como é fácil fazermos.
Jane fecha a plenária respondendo sobre a relação entre pobreza e meio ambiente. Segundo ela, quando a umidade fica baixa e seca chega, são os hospitais públicos que ficam cheios. Os países que estão pedindo ajuda porque vão desaparecer não são aquelas ilhas turísticas, nem os podem construir seus diques, como a Holanda. Os ricos podem resolver os problemas, os pobres é que passam dificuldades.
A reflexão foi breve, como previsto, mas muito desafiadora: entender pobreza e justiça como cidadãos do Reino, confrontar nossos valores individualistas a partir de espaços coletivos e resgatar a ética da participação, da coisa pública e do trabalho em rede. Que o Espírito Santo nos incomode nesses dias!
Texto: Tábata Mori, RENAS Goiás
Foto: Alison Worrall
Me senti amparada em minhas inquietações, no que se refere às questões sociais, quando ouvi Denise Colin destacando que, se de um lado Governo tem sido assistencialista, por outro, o povo contenta-se em ter sua necessidade atendida, sem lutar por direitos estabelecidos.
Vejo, com este reconhecimento por parte de uma representante do governo, grandes possibilidades de grandes transformações. É de extrema URGÊNCIA programas e projetos que busquem a emancipação do sujeito, respeitando, é claro, sua individualidade.
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