Inicialmente significou a libertação política e religiosa do povo de Israel do domínio da tirania e do contexto e cultura idólatra dos antigos egípcios, para que os israelitas pudessem adorar a Deus e prestar culto ao seu Nome em liberdade.
A Páscoa dos hebreus é um paradigma da obra que Deus efetua em benefício de toda a humanidade por meio de Cristo.
Assim o Deus criador, o Deus da Bíblia, o Deus Pai de Jesus Cristo, trabalha continua e bondosamente para pôr a criação inteira, o mudo todo, a humanidade toda, num novo e real patamar de liberdade – de modo que encontre sua a verdadeira identidade e a vocação para a qual foi criada.
A epopeia dos israelitas, então, é um protótipo que ilustra a grande libertação espiritual operada por Deus por meio de Jesus: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13), livrando, inicialmente, os seres humanos de conceitos estereotipados e distorcidos acerca do próprio Deus.
Infelizmente, a humanidade como um todo precisa mesmo de libertação, por causa da obstinada rebeldia em relação ao projeto divino, por encontrar-se aprisionada a uma situação espiritual de escravidão e penúria, fascinada por falsos deuses, encantada e enfeitiçada por tudo que drena o seu sentido e vigor existencial, à semelhança dos antigos israelitas quando escravos do faraó. Parece óbvio que há algo de muito maligno no mundo, pois o predomínio da injustiça, violência, desigualdade, destruição e corrupção não são naturais. As coisas estão fora de lugar, inclusive a concepção que as pessoas e os povos tem do Deus Criador.
A Boa Notícia, segundo Jesus, é que o Senhor Deus não abandona a sua criação, pelo contrário, intervém para resgatá-la e restaurá-la. Em Cristo, Deus mesmo nos surpreende, entra na história e dá a sua vida em resgate de muitos (Marcos 10.45), isto é, daqueles que se abrem para o chamado divino (oferecido a todos) e se colocam debaixo do seu cuidadoso pastoreio. Deus ama e tem em vista o mundo todo, todas as nações, cada pessoa que habita este planeta, sem acepção, discriminação ou preferência.
A Páscoa cristã, então, ao contar a cena principal do Evangelho, jungindo a notícia da morte e ressurreição de Jesus, revela o inimaginável Deus crucificado:
“Todos os anos, voltamos à cena-mãe da fé cristã, a Páscoa de Jesus para reconhecer que algo daquela cena escapa… É impossível não ver naquela cena a inversão do imaginário religioso que, desde sempre, pensou um Deus que pede que a humanidade se sacrifique por Ele, enquanto no Gólgota é Deus que se sacrifica por nós… Na cruz, entrevemos um rosto de Deus diferente daquele percebido pelo sentimento comum; lá, revela-se o Deus da graça. Partamos daí, da revelação que está no coração da cena da cruz, onde o véu do templo se rasga, e nós entrevemos o rosto de Deus. Rosto inédito. Quando só O podíamos ver de costas, O pensávamos exatamente ao contrário. Como o Senhor que está no alto e impõe que os Seus subalternos O sirvam…”.(1)
Aqueles que se confiam a Jesus são libertos de poderes opressores e são colocados no seu Reino de amor, se reencontram com o Pai Celestial, descobrindo a sua identidade e missão como adoradores e servos de Deus.
Descubramos também, nesta Páscoa, a liberdade que Jesus oferece: liberdade do pecado e da culpa, liberdade da dominação do sistema maligno de viver, liberdade da imposição do modo mundano de vida e libertação da imagem opressora e minúscula de Deus. Provemos a verdadeira liberdade que se consumou na Páscoa: Deus revelando seu amor absoluto, apesar do – e por causa do – degradante estado do ser humano/humanidade.
Páscoa cristã então é a experimentação do surpreendente amor total de Deus, que provado, refaz as pessoas como libertas em Cristo.
Christian Gillis
Pastor da Igreja Batista da Redenção, membro do CG da Aliança Evangélica e Miqueias Brasil.
Fonte: Aliança Evangélica