O médico ginecologista e cristão Denis Mukwege recebeu o Prêmio Nobel da Paz 2018 por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra e conflito armado em uma cerimônia no dia 10 de dezembro em Oslo, na Noruega. Com ele, também recebeu o prêmio a ativista Nadia Murad, yazidi e sobrevivente da escravidão sexual imposta pelo Estado Islâmico no Iraque.
Conhecido como “doutor milagre”, Mukwege já tratou mais de 30 mil mulheres vítimas de abuso sexual em conflitos na República Democrática do Congo. Ele montou um hospital com mais de 300 leitos, além de um sistema para financiar as mulheres a recomeçarem suas vidas.
A guerra civil no Congo não envolve grupos de fanáticos religiosos; é um conflito motivado por interesses econômicos que já deixou mais de 6 milhões de mortos e milhares de mulheres submetidas a estupros.
“O objetivo desses estupros coletivos era não só ferir as vítimas, mas toda a comunidade, já que todos eram forçados a assistir a tais atos. Como resultado, as pessoas tiveram de fugir de suas aldeias, abandonar suas terras, seus recursos, tudo. Trata-se de uma estratégia eficaz nesse sentido”, comentou Mukwege.
O Hospital Panzi, fundado pelo médico em 1999 em Bukavu, capital da província de Sud-Kivu, atende mais de 3.500 mulheres por ano.
Filho de um pastor, Mukwege destaca sua fé como sua principal inspiração para combater a violência que assola seu país.
“Cabe a nós, herdeiros de Martinho Lutero, através da palavra de Deus, exorcizar todos os demônios machistas que estão possuindo o mundo, para que as mulheres que são vítimas da barbárie sexual possam experimentar o reinado de Deus em suas vidas”, declarou Mukwege na 12ª Assembleia da Federação Luterana Mundial.
Na ocasião, o médico afirmou que a credibilidade do Evangelho no século 21 pode “liberar a graça que recebemos fazendo da Igreja uma luz que ainda brilha neste mundo de trevas, através de nossas lutas pela justiça, verdade, leis, liberdade e dignidade do homem e da mulher”.
O médico cristão dedicou seu prêmio Nobel a mulheres de todo o mundo que foram prejudicadas pela violência.
Nadia Murad, de 25 anos, se tornou uma ativista dos direitos humanos da minoria yazidi após sobreviver a três meses de escravidão sexual imposta por integrantes do EI no Iraque.
“Espero que ajude a levar justiça às mulheres que sofreram violência sexual”, afirmou Nadia quando foi informada do prêmio.
Após escapar dos terroristas, em 2014, ela liderou uma campanha para impedir o tráfico de pessoas e libertar o grupo étnico-religioso yazidis, que é composto por cerca de 400 mil pessoas. A etnia é considerada “infiel” pelos extremistas do EI.
Estima-se que 3 mil garotas e mulheres yazidis foram vítimas de estupro e outros abusos por parte dos extremistas no Iraque. A violência sexual foi sistemática e fazia parte de uma estratégia militar empregada pelos terroristas contra minorias religiosas.
Em 2016, ela foi nomeada embaixadora da Boa Vontade da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.
O prêmio é de 9 milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão de dólares). Foi criado pelo industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, a premiação foi concedida pela primeira vez em 1901.